domingo, março 13, 2011

Memória, Pan-Africanismo e Revisão Crítica da História no poema Australidades 
(Na Madrugada dos Sons), de José Luis Hopffer C. Almada

Por Ricardo Riso

Introdução
Passam-se os tempos e as mazelas à África e aos africanos perpetuam-se, metamorfoseando-se as cruéis ações a um continente que resiste com bravura a tudo o que lhe é imposto e, a par e ao cabo, negado. Entretanto, o continente africano, berço da civilização, possui uma história antiga com grandes reinos e impérios, mas que foram se desintegrando ao longo dos séculos por políticas equivocadas das suas principais lideranças. Gananciosos, submetendo-se a trocas desiguais e sem a menor preocupação em acompanhar o desenvolvimento de outros continentes e etnias, a princípio com os árabes do Oriente Médio e com os asiáticos que frequentavam a costa oriental banhada pelo Índico, e posteriormente com o europeu, essas elites vassalas foram perdendo seu espaço gradativamente, processo que culminou com o predomínio do tráfico negreiro nas relações comerciais na época das chamadas Grandes Navegações efetuadas pelos europeus em seu projeto expansionista e imperialista.
A partir desse momento, fortalecido no século XV e gerador de consequências devastadoras nos séculos subsequentes, culminando com a pilhagem realizada pela colonização europeia ao final do século XIX após intermináveis batalhas nas quais milhões de negros já haviam sido mortos com sadismo e voracidade jamais vistas até então, conforme afirma o historiador Joseph Ki-Zerbo: “Nenhuma coletividade humana foi mais inferiorizada do que os negros depois do século XV” (KI-ZERBO, 2009, p. 24). Com isso, o continente africano passou a vivenciar o seu pior período histórico quando concretizou-se a arbitrária pilhagem territorial feita pela Conferência de Berlim (1884-1885), dando início ao colonialismo. Desde então, décadas de assombro, terror, violência, racismo declarado e a mais pura perversidade feita na história da Humanidade realizada pelo homem europeu branco, que subjugou o negro africano ao que havia de mais tenebroso na espécie humana. Tudo justificado pelas diversas correntes de pensamento positivistas, predominantes na derradeira metade do século XIX. Ki-Zerbo esclarece essa triste passagem: 
A colonização foi muito mais curta do que o tráfico negreiro, mas foi mais determinante. O colonialismo substituiu inteiramente o sistema africano. Fomos alienados, isto é, substituídos por outros, inclusive no nosso passado. Os colonizadores prepararam um assalto à nossa história. O ‘pacto colonial’ queria que os países africanos produzissem apenas produtos em bruto, matérias-primas a enviar para o Norte, para a indústria europeia. A própria África foi aprisionada, dividida, esquartejada, sendo-lhe imposto esse papel: fornecer matérias-primas. Esse pacto colonial dura até hoje. (KI-ZERBO, 2009, p. 25)
Contudo, as inúmeras etnias submetidas à brutal violência da escravidão nunca aceitaram seu destino de forma passiva. Ao longo dos séculos várias rebeliões, levantes, guerras demonstraram o legítimo descontentamento dos negros até o estopim das lutas de libertação pelo fim do colonialismo e pelo, muitas vezes sanguinário, processo de independência das colônias. Todas essas revoltas e guerras deixaram heróis, líderes que marcaram sua época como Shaka Zulu, rei da etnia Zulu que resistiu bravamente aos invasores europeus por décadas seguidas na primeira metade do século XIX, dominando uma vasta área territorial no que hoje é conhecido como África do Sul, assim como os partícipes de ideologias como a Negritude e o Pan-africanismo, surgidas já no século XX e que expunham a necessidade imediata do fim do absurdo sistema colonial.
Inspirado no supracitado líder negro que o cabo-verdiano, respeitabilíssimo crítico literário, jurista e escritor José Luis Hopffer C. Almada aperfeiçoa o longo poema “Australidades (na madrugada dos sons)” para denunciar em uma narrativa trágica e épica a história de dor, sofrimento, resistência e glória da população negra africana e nos países da diáspora, com intensa ideologia pan-africana, sendo este poema o nosso objeto de análise.
Nosso objetivo é apresentar como o expoente de uma jovem literatura, a de Cabo Verde, revela as atrocidades sofridas pelos negros africanos e seus descendentes na diáspora, procurando quebrar os estereótipos e os preconceitos direcionados a tudo o que se relaciona à África e ao homem negro, contrapondo-se à história oficial formulada pelo homem branco europeu, que delega ao negro africano um papel de coadjuvante na sua própria História. Sendo assim, procuraremos contribuir para o crescente debate de uma nova historiografia acerca do continente africano, questionando a relevância dos ideais pan-africanistas na África à luz do século XXI e de que maneira o escritor africano participa desse processo, tornando a sua obra literária um espaço não só de criação, mas, sobretudo, de reflexão crítica da história através de uma profunda rememoração que procura reformular o passado de seus pares, conferindo-lhes a dignidade até então recusada pela ordem estabelecida.
 
O Pan-africanismo
Sem desmerecer a importância histórica do movimento da negritude e a influência de Aimé Cesaire e Leopold Sedar Senghor, o pan-africanismo recebe nosso maior interesse em razão da sua presença ideológica no poema “Australidades (na madrugada dos sons)” de José Luis Hopffer C. Almada, configurada já na epígrafe constando uma relação de nomes do passado cultural e de heróicos combatentes que participaram da luta pela independência de Cabo Verde, tendo em Amílcar Cabral o seu expoente máximo:
a Pedro Cardoso, Jorge Barbosa, Amílcar Cabral, Manecas Duarte,
Abílio Duarte, João Manuel Varela e Mário Fonseca, in memoriam
a  Aguinaldo Fonseca, Aristides Pereira, José Leitão da Graça, Dulce
Almada Duarte, Kaoberdiano  Dambará, Ioti Kunta,  Kwame  Konde,
Emanuel Braga Tavares e demais pan-africanistas caboverdianos[1]

A ideologia pan-africanista foi criada por intelectuais negros na Diáspora no início do século XX, confunde-se com a própria história de lutas pela equiparação dos direitos civis no continente americano, a princípio nos EUA, e depois se expande para a Europa, sendo muito bem acolhida em países como Inglaterra e França. Posteriormente, esses ideais seriam incorporados nas lutas pela independência em toda África, pelo direito inalienável dos africanos de obterem a autonomia política. Segundo o historiador cubano Carlos Moore: “dessa junção entre uma corrente repatricionista diaspórica e a dinâmica das próprias lutas dos africanos contra o invasor europeu, surgiu uma ideologia de libertação comum – o Pan-africanismo” (MOORE, 2009, p. 34).
William E. B. Du Bois é considerado o principal idealizador do pan-africanismo, “identificado como um movimento de solidariedade entre os descendentes de africanos e africanos” (SILVA, 2001, p. 21); foi o incentivador de vários congressos pan-africanistas nos EUA, Inglaterra e França, foi quem, “antes dos africanos, protestou contra a política imperialista na África, em favor da independência, na perspectiva de uma associação de todos os territórios para defender e promover sua integridade” (MUNANGA, 1988, p. 36).



[1] Poema enviado por e-mail por José Luis Hopffer C. Almada para o autor deste artigo em 27 de janeiro de 2010.
A partir desse momento, diversos intelectuais negros da Diáspora conotados aos ideais libertadores de Du Bois deram prossecução ao pan-africanismo e contribuíram na sua edificação, apenas para citar alguns nomes relevantes: Henry Silvester Willians (Trinidad Tobago), Marcus Garvey (Jamaica), Ras Makonnen (Guiana), Aimé Cesaire e Frantz Fanon (Martinica). O desejo de libertação também se fez presente na intelectualidade africana que logo adotou e adaptou o pan-africanismo “diretamente vinculado às realidades da população autóctone” (MOORE, 2009, p. 36), na luta desigual contra o colonialismo europeu e contra as elites vassalas submissas à dominação estrangeira. Podemos recordar os nomes de Léopold Sedar Senghor (Senegal), Lapido Solanke (Nigéria), Jomo Kenyatta (Quênia), Simon Kimbangu (Congo) e Dr. Wellington (África do Sul)[1].
Apesar de toda a mobilização da população africana que jamais aceitou passivamente a presença do colonizador europeu, o poderio bélico, aliado à maior tecnologia nessa área, favoreceu os massacres, ou as chamadas guerras pacificadoras, de milhões de africanos durante os séculos XIX e XX impondo a permanência europeia, que só começou a se diluir com o enfraquecimento das metrópoles devido às crises econômicas oriundas da Segunda Guerra Mundial. Apesar de muitas independências terem sido forjadas por causa de suas elites corruptas criando uma situação de dependência e configurando um neocolonialismo, houve o fortalecimento de organizações políticas africanas dispostas a mudar os rumos da História, tornando-se partícipes ativos dos inevitáveis processos de independência que viriam a ocorrer ao final dos anos 1950, precisamente em Gana, no ano de 1957, sob a liderança do célebre pan-africanista Kwane Nkrumah.
Contudo, o contexto das independências das nações africanas ainda viveria à sombra dos limites geográficos impostos pela Conferência de Berlim e, por conseguinte, muitos países não se tornaram plenamente livres, com suas elites vassalas aceitando a submissão ao neocolonialismo. Segundo Carlos Moore:
(...) a chamada descolonização do continente africano não o evento de emancipação total que geralmente costumamos entender. A independência política da África aconteceu num contexto de permanência da fragmentação imposta na Conferência de Berlim, agravada pelas novas fragmentações fomentadas pelas intrigas das metrópoles coloniais; foram estas as que criaram a maioria dos partidos “nacionalistas” e financiaram seus líderes. Desse modo, foram poucos os países africanos a chegar à independência com uma direção política independente e verdadeiramente pan-africanista. (MOORE, 2009, p. 41-42)




[1] Os nomes citados neste parágrafo integram uma extensa lista de pan-africanistas relacionados por MOORE, Carlos. A África que incomoda – sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro. Belo Horizonte: Nandyala, 2009. p. 35-37.
De acordo com Moore, “somente seis países africanos obtiveram sua independência sob comando de lideranças progressistas e pan-africanistas” (MOORE, 2009, p. 42), a saber: Gana, em 1957, com Kwame Nkrumah; Guiné, com Sekou Touré, em 1958; Modibo Keita liderou o Mali, em 1960; o Congo, a cargo de Patrice Lumumba, em 1960; Tanganica (atual Tanzânia), em 1962, sob a direção de Julius Nyerere; e, em 1962, Uganda, sob o comando de Milton Obote.
Entretanto, Portugal, sob a feroz ditadura salazarista, retardou por mais de uma década o processo independentista, obrigando as colônias a partirem para a luta armada diante da inflexibilidade do comando português. Em ensaio, José Luis Hopffer C. Almada elucida a postura da metrópole:
Caminhos esses que já se divisavam por demais tortuosos face à intransigência de um colonialismo português, incapaz de sequer encarar a hipótese da concessão de uma independência fictícia às suas colónias e, nessa sequência, de enveredar pela via neo-colonial nas suas relações com as possessões africanas, à semelhança das práticas das demais potências coloniais europeias.
Essa incapacidade congénita radicava na própria condição periférica, de atraso, de subdesenvolvimento e de dependência de Portugal em relação a outras potências capitalistas, verdadeiramente imperialistas, como o próprio (Amílcar, grifo meu) Cabral constata, em teórica sintonia com as teorias marxistas de Samir Amin sobre o centro e a periferia capitalistas.
Segundo a lúcida análise de Amílcar Cabral, para Portugal e as suas classes dominantes era de importância vital a manutenção do monopólio da posse colonial dos seus territórios africanos e ultramarinos.
Um poder político autoritário, de feição e natureza fascistas, uma sociedade portuguesa genericamente racista e profundamente convicta e diariamente convencida da “missão civilizadora” de Portugal em África, uma esquerda metropolitana inoculada, em grande medida, com os mitos da grandeza imperial de Portugal, bem como a existência de importantes comunidades de colonos brancos em Angola e Moçambique e de importantes interesses roceiros em S. Tomé e Príncipe só podiam contribuir para o agravamento da propensão do Governo português para a intransigência anti-negocial.[1]

Depreendemos que os ideais pan-africanistas jamais foram aceitos pelas elites africanas ou pelos países coloniais que não mediram esforços para exterminar essas “nocivas” lideranças, contrárias à ordem estabelecida. Carlos Moore assinala que entre 1957, data da independência de Gana, e 1987, ano do assassinato do último dirigente pan-africanista, Thomas Sankara:
trinta e cinco dirigentes africanos (...) foram assassinados (...) Esses líderes, insubstituíveis em sua maioria, foram ultimados em sua maioria pelas potências ocidentais ou através de seus lacaios.
Ou seja, nas primeiras três décadas de descolonização, o continente africano perdeu seus mais importantes e talentosos líderes; estes foram substituídos por dirigentes politicamente inexpressivos a serviço das grandes potências imperiais do planeta. (MOORE, 2009, p. 48)


[1] ALMADA, José Luis Hopffer C. O caso Amílcar Cabral. Disponível em < http://www.liberal-caboverde.com/index.asp?idEdicao=64&id=17180&idSeccao=527&Action=noticia > Acessado em 30 de maio de 2008.
O desejo do grande líder da união Cabo Verde – Guiné-Bissau, Amílcar Cabral, de autonomia política, econômica, social e cultural, de “um destino / africano livremente escolhido” (ALMADA, 2010, p. 58), foi vilipendiado e destroçado pela ganância de homens inescrupulosos e com ausência de qualquer sentimento humanista.

José Luis Hopffer C. Almada e a heteronímia
José Luis Hopffer C. Almada nasceu em 9/12/1960 na aldeia de Pombal, cresceu na vila da Assomada - Concelho de Santa Catarina, na Ilha de Santiago, Cabo Verde. Passou a adolescência na Cidade da Praia, capital do país, e, posteriormente “para além da ilha”, concluiu os estudos universitários na germânica Leipizig. Toda essa trajetória é rememorada em seus poemas e fragmentada nos heterônimos desenvolvidos pelo poeta, também ensaísta e jurista. Participou ativamente de várias manifestações culturais em seu país, tais como o Movimento Pró-Cultura, a Associação de Escritores Cabo-Verdianos, as revistas Pré-Textos e Fragmentos (da qual foi o diretor) e a editora Spleen-Edições. Organizou, ainda nos fins dos anos oitenta do século passado, a antologia “Mirabilis – de veias ao sol” (1998). Em poesia publicou “À Sombra do Sol I e II” (1990), “Assomada Nocturna” (1993), “Assomada Nocturna – Poema de NZé di Sant’ y Agu” (2005), “Praianas – Revisitações do Tempo e da Cidade” (2009) e, em fase final de produção, “Rememoração do Tempo e da Humidade (poemas de NZé di Sant’ y Agu)”. Para além de autor de “Sindromas de orfandade identitária e funcionalização político-ideológica nos discursos culturais caboverdianos” (separata da revista Direito e Cidadania) e coordenador da obra coletiva “O ano mágico de 2006 -olhares retrospectivos sobre a história e a cultura caboverdianas”, José Luís Hopffer C. Almada é autor de inúmeros artigos e ensaios, de teor literário, cultural e jurídico, dispersos por diversas publicações cabo-verdianas e  estrangeiras.
Consubstanciada por vários heterônimos e pseudônimos, a obra de José Luís Hopffer C. Almada propõe-se abrangente, de múltiplos olhares sobre si e do mundo que o cerca, procurando explorar ao extremo as diversidades formais e estéticas que a poesia possibilita. Dessa maneira, o poeta apura a sua linguagem em busca de um caminho universalizante e existencialista assumido por sua geração que desponta contra “o mau tempo literário”[1] dos anos 1980, por isso o autor aqui referido é descomplexado do passado identitário literário cabo-verdiano tão fincado ao chão do caboverdianismo dos nativistas e dos hesperitanos, e da caboverdianidade dos claridosos e dos novalargadistas.
Com isso, lidamos com os enriquecedores nomes de Alma Dofer, Erasmo Cabral d`Almada, Dionísio de Deus y Fonteana, Tuna Furtado, Zé di Sant`y Águ, posteriormente transfigurado para NZé di Sant`y Agu. O próprio autor desvenda o amálgama heteronímico a que se faz referência, mas para isso é de fundamental importância a leitura do prefácio de seu primeiro livro de poesia, “À Sombra do Sol”, no qual o poeta explica a origem dos heterônimos dos seus múltiplos nomes literários:
Tuna Furtado sou eu, quando assaltado pela paixão de teorizar a cultura e a liberdade de criação. (...) Erasmo e Alma Dofer simbolizam a minha ascendência germânica; Tuna é o nome da única avó que conheci pessoalmente (a mãe da minha mãe); Dionísio é como se chamou o pai da minha mãe; Cabral, Furtado e de Deus são apelidos dos meus pais. Por vezes são os lugares da minha ascendência e infância que são evocados; Fonteana é o sítio onde nasceu e cresceu minha mãe; Fonteana é também o lugar de rebeldia cabo-verdiana anti-morgadio, no século passado. (ALMADA, 1990, p. 14)
Zé di Sant’ y Agu é o seu mais encorpado heterônimo, criado em 1978, na Assomada:
Zé di Sant’ y Agu é “a minha personalidade castiça e lusófona, profundamente ancorada no chão telúrico de Santiago de Cabo Verde (...), simboliza a sacralização dos elementos essenciais da nossa mitologia: os santos (em primeiro lugar, o Santo Iago (...) e a Água; a ilha, a raiz do arquipélago. Zé sou eu. (ALMADA, 1990, p. 14)
Entretanto, Zé di Sant’ y Agu ganhou o acréscimo do N em NZé, “o eu forte e afirmativo, a primeira pessoa do singular cabo-verdiano”[2], tornando-se NZé di Sant’ y Agu e configurando assim, a sua maturidade poética, restando ao antigo heterônimo os poemas tecidos na escrita crioula. Esclarece o poeta que:
NZé di Sant’y Águ representa uma personalidade poética que se quer plenamente amadurecida e capaz de superar pelo seu aperfeiçoamento a linguagem e a escrita poéticas de Zé di Sant’y Águ, nas suas modalidades lusógrafa e crioulógrafa, superação essa também testemunhada pela aguda maturidade da nova “Assomada Nocturna”[3]
Portanto, além deste supracitado, temos os pseudônimos Tuna Furtado, como assina os textos críticos e culturais, que se transfigura em Dionísio de Deus e Fonteana quando assina textos de ficção; Alma Dofer é o seu heterônimo de vertente lírica e da angústia existencial; Erasmo Cabral D’Almada é o seu outro heterônimo que possui um olhar corrosivo e amargo, ainda assim conserva uma ironia próxima do sarcasmo, é detentor de virulenta crítica social, atento aos problemas que assolam os africanos e os negros na diáspora. Logo, o heterônimo de nosso maior interesse e que assim descreve o autor:
um olhar de longe sobre Cabo Verde bem como a auto-consideração do homem-poeta como cidadão do mundo, e, por isso, angustiado com a condição humana, com as convulsões sociais adveniente da busca da felicidade e da liberdade. A essa poesia não são estranhos os martírios dos rebeldes, dos povos e dos habitantes da diáspora.[4]

Australidades (na madrugada dos sons): conscientização histórica
“Australidades (na madrugada dos sons)”, o longo poema que se pretende aqui ser analisado, integra o germinal projeto literário de José Luis Hopffer C. Almada iniciado em Leipzig (Alemanha) durante os anos 1980. Próximo ao processo que transformou o poema “Assomada Nocturna”, publicado no seminal “À Sombra do Sol”, em duas edições[5] independentes e ampliadas por novos versos a cada lançamento, construção que depois seria retomada e ampliada, em parte, no recente poema “Praianas”, “Australidades (na madrugada dos sons)” também tem sua origem no livro de estreia do autor, sob o enigmático título-verso “Na Madrugada dos Sons” (ALMADA, 1990, p. 89) inserido no caderno “Neve Encharcada de Sol ou a Madrugada da Neblina”, atribuído a Erasmo Cabral d’Almada.
À análise de “Australidades (na madrugada dos sons)” torna-se imperioso retomar algumas características de outro heterônimo de José Luis Hopffer Almada, NZé di Sant’ y Agu, em razão de diversas semelhanças formais e estéticas contidas em “Australidades”, sendo conveniente recuperar importantes considerações de Inocencia Mata, Maria Armandina Maia e Rui Guilherme Gabriel que deixaram uma acurada fortuna crítica[6] acerca da produção poética deste heterônimo. Análogo aos dois poemas de NZé di Sant’ y Agu, “Australidades” encontra-se em permanente transformação, sofrendo alterações e/ou acréscimos de versos desde o limiar da trajetória literária do autor.
Valendo-se de diversos procedimentos consagrados pelo labor poético de seu heterônimo mais vinculado às ilhas, a tessitura de Erasmo Cabral d’Almada para este “Australidades” recorre à constante, numerosa, exuberante e visceral adjetivação e ao uso intenso do gerúndio; à dilatada citação de pessoas, fatos e lugares; à apropriação de versos, textos críticos e de diferentes referenciais ao corpo do poema; ao uso da anáfora e da evocação; ao caráter trágico e épico da história africana (cabo-verdiana, em menor escala) permeado por uma virulenta rememoração individual e coletiva; além da maturidade plena de sua escrita em uma cuidadosa depuração da palavra revelada na exuberante “metaforização do discurso”[7], como versou o poeta maior, Arménio Vieira
Apossado dessas determinantes características de NZé di Sant’ y Agu, a veia corrosiva de Erasmo Cabral d’Almada segue a máxima de Amílcar Cabral que propõe a “reafricanização dos espíritos” ao exortar ácidas críticas ao passado opressor vivenciado pelos negros na África e na diáspora. Sendo assim, o sujeito lírico recorre à narrativa épica para apresentar a dolorida história dos negros, posto que o épico favorece os complexos e os profundos acontecimentos que serão descritos, pois “o canto que brota dessa cosmovisão totalizante é muito dele, poeta, mas também de toda a gente, de seu povo, de toda a Humanidade (...) pela profunda universalidade decorrente” (MOISÉS, 1968, p. 63).
Através de uma profunda rememoração, o sujeito lírico, tal como um griot, relembra as trágicas passagens de dor e morte dos negros ao longo dos séculos e evoca um dos seus mais bravos guerreiros, Shaka, rei dos Zulus, “ó grande monarca negro / ó imperador dos bantus meridionais” (ALMADA, 2010, p. 16) para relatar a história negligenciada nos registros oficiais, história daqueles que pretendem perpetuar as trevas da opressão alimentada pela ordem estabelecida. A dramaticidade dos fatos é pontuada pela marcante e angustiante anáfora “Na madrugada dos sons / não posso esquecer / shaka / os séculos passados / sobre a tua inconclusa guerra / e a opressão durando” (ALMADA, 2010, p. 4), de caráter imperativo, preâmbulo de tristes momentos históricos relatados com o auxílio de uma crua e cruel adjetivação dos acontecimentos dando continuidade aos versos que aqui destacamos: “na surpreendida devastação das máscaras” (p. 3), “na lenta germinação dos furacões” (p. 13), “os olhos rurbanos e ressequidos das criaturas / e as suas almas mutiladas no lento definhamento / dos sonhos” (p. 24).
Incentivado por uma teatral dialogia[8], esse monólogo conduz a um profundo mergulho ao passado para resgatar, para o tempo presente, todas as injustiças de tempos idos, e assim reforçar a importância da união dos povos africanos, de certa maneira, recuperar os ideais pan-africanistas, pois, segundo Ki-Zerbo:
Na África, cada vez que se tentou fazer uma reforma micronacional de um sistema, houve um fracasso. Todas as tentativas micronacionais de libertação da África (...) fracassaram, em grande parte, porque foram solitárias e não solidárias. Penso que se deveria colocar como postulado a fórmula seguinte: a libertação da África será pan-africana, ou não será. (KI-ZERBO: 2006, p. 35-36)
Por isso, ciente de que “a poesia resiste à falsa ordem, que é, a rigor, barbárie e caos (...). Resiste aferrando-se à memória viva do passado; e resiste imaginando uma nova ordem que se recorta no horizonte da utopia” (BOSI, 1977, p. 146), e compromissado com seu ofício, José Luis Hopffer C. Almada, através de seu heterônimo Erasmo Cabral d’Almada, em entrevista a Abraão Vicente, afirma que:
A memória é um lugar onde se podem resguardar muitas vivências e ocorrer muitos milagres. Lugar de refúgio e de ancoragem, pode por outro lado ser constantemente reencenado nos termos propostos pela imaginação e pelo engenho do criador que se propõe revisitá-la. (...)
Contra a amnésia (deliberada e induzida) há que contrapor a memória e as suas revisitações.
(...) A interpretação do passado mediante o discurso científico não substitui todavia o que ao poeta, ao escritor e ao artista da palavra compete: criar emoções e comoções presentes com o olhar debruçado sobre as circunstâncias e os afectos dos nossos antepassados, reencenados no palco imaginário da nossa memória e da nossa genealogia.[9]
Em razão disso, o sujeito lírico resgata os diversos problemas que o continente africano vivenciou ao longo dos séculos, como a presença opressiva dos árabes e da influência do islamismo em um período anterior ao contato constante com os povos de origem europeia. É pertinente recordar o que relata Carlos Moore:
‘tráficos negreiros’ começaram antes do século IX d.C., bem antes que os europeus pensassem em sair da Europa. No século XVI, quando se inicia o tráfico pelo Atlântico, já haviam saído da África, para serem escravizados no Oriente Médio e na Ásia Meridional, dezenas de milhões de africanos.
Valendo-se de uma poética virulenta, corrosiva e irônica, o sujeito lírico repassa essa triste presença em viscerais adjetivações e metáforas:
e a opressão durando
com a implacável irrupção dos cavaleiros pardos 
de cimitarras kalashnikovs altissonantes
ofensas e versículos sagrados em punho
de cabeças cobertas de turbantes tisnados
do religioso fervor dos apóstolos do apocalipse
do ímpeto purificador dos guardiães dos paraísos
terrestres e celestes das intocadas virtudes
das suas setenta e duas virgens nuas e sentadas
isentas de todos os pecados excepto dos que são
lícitos à concupiscência dos senhores dos haréns  (...)
com a repentina aparição dos cavaleiros castanhos  
e da sua senhorial arrogância puro-sangue
debruçada sobre a pele negra e indefesa
do choro do clamor da lamentação
das súplicas à piedade dos noventa
e nove nomes de deus todo-poderoso
de allah o muito misericordioso
e das suas sobranceiras poses
e das suas engrandecidas posturas
envoltas na antiga indumentária 
das criaturas vindas dos latos desertos do norte
das ilhas e penínsulas ribeirinhas do índico e do mediterrâneo
das suas cidades mercantis dos seus entrepostos marítimos
das suas tendas de negócios dos seus golfos repletos
de usura e das outras margens dos mares
tintos do sangue que inundava a rarefeita respiração
dos camelos e obscurecia a perplexidade das sombras
que seguiam cativas nas caravanas de escravos
e tingia de mágoa e de sofrimento as águas serenas
as cascatas estrondosas as correntes tumultuosas
as espumas brancas os suspiros azuis as orlas férteis
do nilo do níger do senegal do congo do zambeze
e de outros rios e torrentes de água
e dos povos negros  e pardos (...) (ALMADA, 2010, p. 6-7)
Como não poderia faltar diante da participação cruel que teve no processo de escravização e apoio ao tráfico, as críticas ao catolicismo são contundentes, assim como a demais religiões que chegaram à África, esmagando as religiosidades autóctones em um violento processo de assimilação, como na citação da oração católica, “das promessas do pão / nosso de cada dia”, e na passagem abaixo:
e a opressão durando
com as inúmeras conversões
de negros pagãos e animistas de brancos bárbaros
e politeístas de castanhos cultores do natural cromatismo
das plantas do canto diverso das aves de jeová da cruz
de cristo da estrela de david das suas mesquitas das
suas ermidas das suas sinagogas dos seus conventos
dos seus lugares de silêncio assolados pelos ventos
das suas pedras de meditação e penitência das suas
árvores sagradas dos seus anjos da guarda e ícones
de santos de dúbia eficácia dos seus amuletos crenças
mezinhas e feitiços (...)
invocados nos insistentes chamamentos cantados dos muezzins
nas rezas a santos cristãos de pele castanha olhos arredondados
inebriados pela fé e pela cafeína escuros  cabelos de algodão
túnicas de linho versados nos caracteres amáricos da bíblia sagrada
nas letras coptas da palavra de deus nos hinos evangélicos
dos pastores protestantes nos cânticos dos padres e das
procissões aos santos padroeiros católicos (...)
da blasfémia da penitência e do arrependimento
devidos às rezas fingidas nas missas católicas
e no seu arrevesado e inacessível latim
nos cânticos segregados dos cultos protestantes
nos ritos dedicados aos deuses e aos santos
loiros de olhos azuis à cruz nua e impiedosa
à bíblia desafecta do sermão da montanha
da parábola do bom samaritano do amor ao próximo
da aceitação dos humanos pecados da carne do perdão
dos hábitos dissolutos das adúlteras e das prostitutas 
da bondade e dos feitos milagrosos de jesus cristo
da dança e do ritmo cadenciado dos tambores
de exorcização do assédio dos espíritos maléficos
mirando a temerosa beleza das jovens cativas
cobiçando a desprevenida sensualidade das escravas
                                                                           /núbeis
rondando os ventres férteis das mulheres negras
                                                                    /e mulatas (ALMADA, 2010, p. 9-10)
O sangrento processo dos tráficos negreiros e a ocupação europeia realizada sob a marca da violência “nunca teve paralelo na história da Humanidade. Simplesmente, se tratou de um genocídio racial” (MOORE, 2009, p. 33) legitimado de forma voraz pela ocupação da África após a Conferência de Berlim, em razão da abominável e racista justificativa da “‘inferioridade natural’ dos negros – a suposta incapacidade inata desses para seu autogovernar e a consequente necessidade, para o Ocidente, de salvar os negros de si próprios” são denunciadas pelo sujeito lírico, arguto observador da História que se contrapõe aos perigosos revisionismos propostos que procuram minimizar a tragédia que foi a presença europeia em África:
imponentes marcos para a delimitação do território
e das terras da fronteira das recém-conquistadas
colónias europeias dos chãos  tribais dos sobados
reinos e impérios negro-africanos subjugados
em longas e mortíferas guerras coloniais
de ocupação ditas de pacificação (ALMADA, 2010, p. 15)
O desprezo do colonizador pelos costumes locais, leva-o a impor sua cultura, forçando a assimilação aos negros. Não há para o colonizador o outro. Ele não o vê, não o escuta, não o respeita como cidadão. Enclausura-o, por conseguinte, ignora-o. Trata-se de uma atitude desesperada do colonizador que necessita mostrar ao colonizado a sua superioridade, cumprir o seu papel de colonizador, logo, usurpador. Segundo Albert Memmi,
“o usurpador, sem dúvida, reivindica o seu lugar e, se for necessário, o defenderá por todos os meios. (...) esforça-se por falsificar a história, faz reescrever os textos, apagaria memórias. Não importa o quê, a fim de conseguir transformar sua usurpação em legitimidade.” (MEMMI, 2007, p. 56)

Ao procurar defender seus interesses coloniais, o colonizador elevará os seus feitos e rebaixará tudo o que for relacionado ao colonizado, sendo este atingido moral e fisicamente, conforme diz Memmi:
“Como pode a usurpação passar por legitimidade? Duas operações parecem possíveis: demonstrar os méritos eminentes do usurpador, tão eminentes que clamam por semelhante recompensa; ou insistir nos deméritos do usurpado, tão graves que não podem senão suscitar tal desgraça. E esses dois esforços são de fato inseparáveis. Sua inquietude, sua sede de justificação exigem do usurpador, ao mesmo tempo, que se eleve a si mesmo até as nuvens e que afunde o usurpado mais baixo que a terra.” (MEMMI, 2007, p. 57)

O ódio do colonizador agirá com extrema brutalidade, tentará impor suas certezas e frisará as diferenças que justificam a submissão do colonizado:
Utilizará para descrevê-lo as cores mais sombrias: agirá, se for preciso, para desvalorizá-lo, para anulá-lo. Mas não sairá jamais deste círculo: é preciso explicar a distância que a colonização estabelece entre ele e o colonizado; ora, a fim de justificar-se, é levado a aumentar mais ainda essa distância, a opor irremediavelmente as duas figuras, a sua tão gloriosa, a do colonizado tão desprezível. (MEMMI, 2007, p. 58)

A profunda análise realizada por Memmi acerca da postura do colonizador, auxilia-nos à compreensão da postura tomada pelo sujeito lírico, que rebate a nefasta presença colonizadora expondo as táticas covardes usadas pelos invasores:
a sua ânsia civilizadora por via da imposição do catecismo
do crucifixo da resignação a sua ânsia civilizadora por mor
da palmatória do imposto da palhota dos trabalhos forçados
a sua ânsia civilizadora mediante a coerciva instrução
no macaqueamento de gestos ritos e esgares a sua ânsia
civilizadora por força da extirpação da natividade das almas
da assimilação  dos risos de marfim aos frios semblantes
da raiva aos invernais silêncios debruçados sobre a neve
a lareira as árvores de natal e os presépios imaginados (ALMADA, 2010, p. 17)
A ironia característica de Erasmo Cabral d’Almada é favorecida pelos detalhes narrados nas longas estrofes, por uma linguagem muito bem cuidada e pelas imagens inovadoras, surpreendentes e vorazes versadas pelo sujeito lírico que dilaceram o discurso estabelecido pelo opressor. Por causa das tenebrosas atitudes dos colonizadores europeus em todo o continente africano, somente uma verve irônica beirando o sarcasmo para combater as mentiras da longa noite de medo e dor, como nessa passagem referente à presença do homem branco na Rodésia:
enquanto os zimbaboers
lamentam a lendária ingratidão dos cafres
o seu previsível desperdício dos muitos benefícios
da civilização branca e ocidental
a sua provável delapidação das muitas aquisições
da cultura cristã e segregacionista
o seu provável esquecimento das cláusulas
do bom senso das normas democráticas
da boa governação respeitadora da propriedade
privada dos ditames da monogamia da bíblica (ALMADA, 2010, p. 32)

A histórica e violenta ação dos boers na antiga Rodésia, atual Zimbábue, “dos sacros fundamentos inamovíveis / das margens desiguais e intransponíveis / que aprisionam as águas da fraternidade” (ALMADA, 2010, p. 33), foi tão abominável quanto o regime imposto pelos “antiquíssimos afrikanders” na África do Sul do injustificável apartheid. Todavia, o sujeito lírico atento ao tempo em que vive denuncia as novas escabrosas parcerias, resultantes de um inconsequente acúmulo de riqueza, “os novos e escuros inquilinos / da insaciável celebração da luxúria” (ALMADA, 2010, p. 33). A revolta se apodera diante de tantos velhos descaminhos e das novas expressões faciais/raciais da permanente opressão na extração dos recursos minerais em solo sul-africano:
enquanto os settlers
e os seus novos rivais negros
e os seus novos sócios indígenas
e os seus outros parceiros
e os seus outros contendores
radicados na nómada apatridia do lucro (...)
e sua frenética e impune mercancia
da mão-de-obra barata das minas de ouro
de carvão de diamante de cobre de cobalto (ALMADA, 2010, p. 34)

A metamorfose ininterrupta da opressão escancara a fragilidade dos recentes estados libertos, à mercê das garras afiadas do neocolonialismo e das políticas externas impostas pelos países desenvolvidos e dos grandes conglomerados econômicos que fazem dos valores democráticos meras figuras de manipulação, submetidas a interesses estrangeiros, escusos, nefastos e corruptos:
e a opressão metamorfoseando-se
com a ávida aprendizagem
dos morosos trâmites do voto livre
da sagração do sopro e dos ritos
miraculados das urnas do escrutínio
e da exorcização da sorte aziaga
das vozes lúcidas das vozes despertas
das vozes soberanas do povo
amiúde armadilhadas assaltadas
sequestradas conspurcadas
desperdiçadas pelo rosto corrupto
da astúcia da farsa da fraude
do tráfico de consciências (ALMADA, 2010, p. 39)

Entretanto, é “na rememoração do tempo e da penumbra do áfrico continente” que o sujeito lírico lembra a Shaka a história primordial da sofrida terra, recorre aos “passos primevos das primeiras criaturas humanas / assinaladas pelos umbigos dos hominídeos seus antepassados” e àqueles que foram obrigados a sair pelo mundo em razão do tráfico negreiro, formando a diáspora africana: “e dos seus bustos transfigurados / do outro lado do atlântico do índico / do mediterrâneo do oceano pacífico / e dos seus pés transplantados / para as ilhas dispersas no oceano-mundo”; para assim chegar nos tempos de guerra colonial e o desejo inalienável de libertação, conduzidos por líderes de um passado distante e de grandes nomes do século XX, incentivados pela:
resiliência da palavra livre
e da fronte insurrecta
das sombras alevantando-se
tais espíritos vingadores de aníbal e amílcar barca
tais guerreiros
de samory e menelik (...)
de tempos outros de rostos outros
para a edificação da pátria e da esperança (ALMADA, 2010, p. 45)

Entretanto, a História reservaria as revoltas dos negros à opressão colonial, as mobilizações dos povos africanos trariam novos rumos à horripilante experiência colonial. De forma criativa, o sujeito lírico cita livros teóricos de importantes intelectuais africanos, tais como Frantz Fanon e Albert Memmi,
à sombra austera dos hinos à independência
sob o desvelo das longínquas entoações dos
                                               /cantos dos oprimidos
das fundas reminiscências das vozes e das toadas
                                         /dos condenados da terra
dos traumas dos seus retratos de colonizados
exorcismando as níveas efígies dos colonos
e os seus grandiosos retratos de colonizadores (ALMADA, 2010, p. 17)

Assim como citações a livros de literatura de autores africanos de língua portuguesa, como os angolanos Agostinho Neto e o seu clássico “Sagrada Esperança”, e “No antigamente, na vida” de Luandino Vieira; e “País dos Outros” e “Terra Sonâmbula”, dos moçambicanos Rui Knopfli e Mia Couto, respectivamente. Também vale frisar as recriações a partir de paráfrases como “carnívoras elegias do passado”, referindo-se ao “Vinte e tal reformulações do amor e uma elegia carnívora” de Luís Carlos Patraquim, e à personagem Mussunda (ALMADA, 2010, p. 25), do famoso poema “Mussunda Amigo”, de Agostinho Neto, que seria um arquétipo do homem angolano morador dos musseques.
Para finalizar as enriquecedoras amostras de textos vários que permeiam o longo poema “Australidades”, ressaltam-se as citações aos slogans políticos que convocavam a população oprimida a participar da luta pela libertação e posterior processo de reconstrução com a independência conquistada: “tudo pela revolução nada contra a revolução” e “tudo pela nação nada contra a nação” (ALMADA, 2010, p. 25).
Todavia, os ideais revolucionários foram dilacerados pela ganância desmedida de “elites vorazes, corruptas e ditatoriais de hoje têm como precursores diretos as elites vorazes e corruptas de ontem” (MOORE, 2009, p. 58). Os sonhos libertários continuam em suspensão como nos séculos anteriores e o sujeito lírico é incisivo em sua rememoração, “Na madrugada dos sons / que dentro de nós agonizam / não posso esquecer” (ALMADA, 2010, p. 25), e assim dissecar os terríveis desmandos da contemporaneidade, “dos cépticos tempos de agora” (ALMADA, 2010, p. 26):
da sua saga ignorada
pelos novos lavradores
do desânimo e da miséria
dos seus heróis sonegados
pelos novos mercadores
dos prantos da história
dos seus ícones açambarcados
pelos novos plantadores
da cana-de-açúcar do café
do cacau do algodão
das suas figuras encantatórias
destronadas pelos novos donos
das cotações do dollar da libra
do marco do franco do euro do iene
............do dinar do peso da miséria (ALMADA, 2010, p. 26)

O sujeito lírico desmascara as ajudas humanitárias internacionais e seus interesses escusos, propagadores da miséria e alimentadores da desigualdade permanente nos países africanos, “das suas humanitárias remessas / de solidariedade e caridade cristã / expropriadas pelos novos cúmplices / da plutocracia nómada e transnacional” (ALMADA, 2010, p. 26). Para combater a situação vigente, o professor Carlos Moore mostra-se coerente e conotado ao legado do pensamento pan-africano e propõe uma nova forma de auxílio a ser realizado pela sociedade civil na diáspora aos países africanos, pois, como afirma: “a Diáspora esteve condenada a pensar sua própria libertação e a pensar, paralelamente, a emancipação do continente africano; não havia outro via. Acredito que essa obrigatoriedade continue sendo vigente hoje” (MOORE, 2009, p. 61), porque, segundo o historiador, os países africanos ainda são representados por “políticas que conflitam com os interesses de seus povos” (MOORE, 2009, p. 59), sendo assim:
é necessário o estabelecimento de uma relação profícua Diáspora-África (...) no sentido de que deve haver equivalência entre os dois parceiros: sociedade civil das diásporas e sociedade civil africana (...) representada por aquelas organizações democráticas e pelos intelectuais pan-africanistas que estão lutando, em condições tremendamente difíceis, para fazer avançar a causa da justiça social e a democracia política nos diferentes países da África” (MOORE, 2009, p. 59)

A resistência “ecoando nas palavras do poeta da ilha de nome santo”
Após tantas desilusões com os rumos funestos da história de ininterrupto sofrimento submetido à população negra africana, o longo poema agiganta-se com o recurso da intertextualidade que permite a renovação dos ideais pan-africanos pela voz firme desse sujeito lírico-griot ao permanecer revirando o passado e relembrar “da fronte insurrecta / das sombras alevantando-se / tais espíritos vingadores / de aníbal e amílcar barca / tais guerreiros / de samory e menelik” (ALMADA, 2010, p. 45), reformulando as forças dos heróis míticos cabo-verdianos da batalha do Monte Agarro: “exumando as sombras escuras / de matias pereira e de outros valentes / de julangue dos companheiros / de gervásio domingos e narciso / das suas silhuetas nítidas / atalhadas na noite de monte-agarro” (ALMADA, 2010, p. 45).
O sujeito lírico utiliza a narrativa corrosiva como “lâminas afiando-se / nos tempos contemporâneos” para evocar, enfaticamente, a resistência dos povos africanos “nas palavras / do poeta da ilha de nome santo / nas penas do seu coração negro / de origens mistas ancorado em áfrica / os negros não morrem os negros / não morrerão nunca os negros” (ALMADA, 2010, p. 46). Os dois últimos versos inspiram-se no poema “Fragmento Blues (A Langston Hughes)”[10] do são-tomense Francisco José Tenreiro[11], vate da poesia de São Tomé e Príncipe. É com a vitalidade destes versos que o sujeito lírico mostra todo o passado de superação das populações africanas e da diáspora, e perpetua a memória de nomes consagrados na emancipação dos povos contra os governos opressores, como o líder da independência haitiana, Touissant Louverture, e o partícipe da revolução cubana, Ernesto Che Guevara:
das vozes
guerrilheiras de el che e das suas imperecidas hostes
 de camponeses índios mestiços negros e brancos
gretados pelo suão e pelo sol  da revolução
movendo-se pelas américas sonhadas
por tousssaint louverture antónio maceo
simão bolivar josé marti farabundo marti
e pelos decapitados inconfidentes de minas gerais (ALMADA, 2010, p. 47)

A condição anafórica é retomada com a constatação virulenta do passado de dor e de resistência dos povos negros – “os povos negros não morreram / os povos africanos não pereceram / shaka” – e é adaptada conforme a rememoração intensa do narrador, indignado com as perdas culturais, contrário à assimilação dominante agressora do fenótipo negro, “contra a aura corrupta da alienação / branqueadora da epiderme escura / saqueadora dos cabelos crespos / afuniladora das largas narinas / com o cívico alisamento dos cabelos” (ALMADA, 2010, p. 54). Por isso, o narrador afirma e exalta o guerreiro zulu, Shaka, pois sua conduta e liderança heróica é digna de louvação e estímulo à população negra: “com a tua guerreira vitalidade / com a tua grande envergadura / de resistente africano / agigantando-se / nos tempos heróicos de outrora / estatuindo-se / nos tempos guerreiros de hoje (...) os negros não morreram / nem nunca morrerão / shaka” (ALMADA, 2010, p. 53).
Assim sendo, líderes pan-africanistas são evocados como Marcus Garvey e William Du Bois (p. 53), personalidades políticas (Hiram Relves e Frederick Douglas) e músicos consagrados do jazz (Billie Holiday, Charlie Parker, Miles Davis, entre outros) norte-americanos (p. 53). Também são lembrados esportistas negros Joe Louis (dos punhos cerrados), Cassius Clay (da boca provocatória) e posteriormente Mohamed Ali (do verbo mordaz), o atleta campeão olímpico de 1936 Jesse Owens: “das suas pernas campeãs / escarnecendo da suástica / submetendo o rosto ariano / feroz doentio / genocida” (ALMADA, 2010, p. 53), assim como a mulher negra Rosa Parks[12], famosa por ser recusar a ceder seu acento no ônibus a um homem branco, o que era lei no estado racista norte-americano do Alabama, em 1955. A atitude dessa mulher contribuiu para desencadear os protestos que culminariam nas lutas dos negros pela igualdade dos direitos civis nos EUA.
A exaltação aos grandes dirigentes e intelectuais pan-africanos é revelada e exaltada nos versos deste “Australidades (Na madrugada dos sons)” como:
a unitária euforia pan-africanista
de kwame nkrumah /
com o martírio do verbo ardente
de patrice lumumba (...)
a assassinada valentia
de ben barka eduardo mondlane
félix moumié e thomas sankara
com a alvejada virulência da palavra exacta
de franz fanon malcom x e stevie biko
com a memória desfalecida
de albert luthuli walter sisulu
ruth first e dulcie september (ALMADA, 2010, p. 58)

Não são excluídas da memória do narrador as lutas e os massacres sofridos por pessoas anônimas, cruelmente assassinadas:
com a ignomínia das balas carniceiras
das crianças do soweto
dos indefesos de sharpeville
dos malgaches chacinados em 947
dos estivadores grevistas de pindjiguiti
dos massacrados de mueda de wiriyamu
da baixa do cassange dos levantados do chão
de matabele land e de outros anónimos lugares
da usura dos ossos e da desesperança (ALMADA, 2010, p. 60)

O épico encerra-se com uma belíssima homenagem a grandes artistas negros africanos e da diáspora, até atingir a promessa de um mundo menos racista com a chegada de Barack Obama à presidência dos EUA:
com os fervorosos sermões musicais
de joseph kabassele  miriam makeba 
fela kuty farka ali touré francis bebey


com o balanceio libertário
de peter tosh zé carlos schwartz 
carlos alberto martins chamado katxás
ildo lobo liceu vieira dias orlando pantera
manel d´novas  kodé di dona

com as rítmicas invectivas
de bob marley
e das suas redemption songs
e das suas songs of freeedom ressoando 
nos compassivos tempos de nelson mandela
nas pós-invernais estações nos redentores vendavais
nas promessas pós-raciais das esperadas
américas de barack obama

os povos negros não morreram
nem nunca morrerão
shaka
os povos africanos não pereceram
nem jamais perecerão (ALMADA, 2010, p. 60-61)



Conclusão
Após análise do poema épico “Australidades (na madrugada dos sons)” do heterônimo Erasmo Cabral D’Almada, de José Luis Hopffer Almada, constatamos a pertinência do pensamento pan-africano para os persistentes problemas político-sociais da África e dos negros na diáspora. O processo ininterrupto de discriminação racial desenvolvido no período do tráfico negreiro realizado pelos europeus e o posterior insano e deprimente período de colonialismo europeu no continente africano ao final do século XIX, ainda deixam o seu perverso lastro na contemporaneidade pós-colonial, em razão da exclusão intensificada pelas políticas neoliberais estrangeiras que não se preocupam em inserir os países africanos no atual modelo econômico, por sinal, de competitividade feroz e desumana.
Agora, como a África não se enquadra no jogo de interesses internacionais, na balança comercial vigente, servindo apenas para fornecer as matérias-primas necessárias de seu riquíssimo subsolo – “e rebrilham impávidos / o diamante o ouro o cobre / e outras pedras preciosas / e outros vis metais / e outros obscuros minerais / e outros cobiçados minérios / que infernizam as jornadas / e consagram a desgraça / de todas as adiadas alvoradas” (ALMADA, 2010, p. 37), é necessário que os ideais pan-africanistas sejam reformulados para se adaptar às novas formas de opressão que se apresentam no século XXI. Um dos caminhos que propomos para intensificar a luta seria a união de forças da sociedade civil na diáspora africana e dos líderes das sociedades civis nos países africanos para que a discriminação ao cidadão negro seja exterminada das relações sociais.
A incessante rememoração do poema proposto pelo narrador/griot auxilia-nos a termos dimensão do quanto o continente africano foi usurpado através dos séculos, quantas pessoas anônimas e grandes líderes foram sumariamente mortos por defender uma vida justa e igualitária. Nada mais que isso, apenas o direito a uma vida digna, sem as contínuas humilhações às quais os negros são obrigados a conviver até os dias atuais.
José Luis Hopffer C. Almada presta uma bela homenagem à África e aos negros da diáspora com este “Australidades (na madrugada dos sons)”, firmando-se como um partícipe ativo da reelaboração criativa da palavra poética cabo-verdiana, sobretudo, em língua portuguesa.



BIBLIOGRAFIA:
ALMADA, José Luis Hopffer C. À Sombra do Sol – Volume I. Praia: Voz di povo, 1990
ALMADA, José Luis Hopffer C. Assomada Nocturna (Poema de NZé Di Sant’Y’Agu). Viana do Castelo: Câmara Municipal, 2005.
ALMADA, José Luis Hopffer C. Praianas – Revisitação Do Tempo e da Cidade (Poema De Nzé Di Sant’Y’Águ). Praia: Spleen Edições, 2009.
DASKÁLOS, Maria Alexandre; APA, Lívia; BARBEITOS, Arlindo. Poesia africana de língua portuguesa (antologia). Rio de Janeiro: Lacerda, 2003.
GABRIEL, Rui Guilherme. Terceira (G)Estação do Mundo Novo. Uma Leitura de “Praianas (Poema De Nzé Di Sant’Y’Águ)”. In: ALMADA, José Luis Hopffer C. Praianas – Revisitação Do Tempo e da Cidade (Poema De Nzé Di Sant’Y’Águ). Praia: Spleen Edições, 2009. p. 143-157.
KI-ZERBO, Joseph. Para quando África? – Entrevista com René Holenstein. Rio de Janeiro, Pallas, 2006.
MAIA, Maria Armandina. Assomada Nocturna: quando o passado reescreve o futuro. In: ALMADA, José Luis Hopffer C. Assomada Nocturna (Poema de NZé Di Sant’Y’Agu). Viana do Castelo: Câmara Municipal, 2005. p. 65-70.
MATA, Inocencia. Corografias da memória: a lenta e transparente caminhada poética de NZé di Sant’ y Agu. In: ALMADA, José Luis Hopffer C. Assomada Nocturna (Poema de NZé Di Sant’Y’Agu). Viana do Castelo: Câmara Municipal, 2005. p. 3-7.
MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
MOORE, Carlos. Da África mítica à África real: para uma cooperação realista entre a África e a diáspora. In: A África que incomoda – sobre a problematização do legado africano no quotidiano brasileiro. Belo Horizonte: Nandyala, 2009. p. 11-65.
MUNANGA, Kabenguele. Negritudeusos e sentidos. Rio de Janeiro: Ática, 1988.
SECCO, Carmen Lucia Tindó. Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX: volume III – Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999.
SILVA, Nelson Fernando Inocencio da. Consciência Negra em cartaz. Brasília: UNB, 2001.



[1] Fundamental a leitura do prefácio, do também organizador, José Luis Hopffer C. Almada para Mirabilis – de veias ao sol, antologia dos novíssimos poetas cabo-verdianos à compreensão das mudanças de paradigmas propostos por essa geração literária. Ressalte-se que não se configura, em momento algum, um grupo com dogmas ou doutrinas, mas uma reunião de poetas heterogêneos, cada qual com suas idiossincrasias e estilos poéticos, convergentes apenas pela produção realizada já com o país independente, excetuando Arménio Vieira.
[2] Essa mudança é explicada com detalhes em depoimento do autor à Maria Armandina Maia, no posfácio Assomada Nocturna: quando o passado reescreve o futuro. In: ALMADA, José Luis Hopffer C. Assomada Nocturna (Poema de Nzé di Sant’y Águ). Viana do Castelo: Câmara Municipal Viana do Castelo, 2005. p. 66. Edição digital enviada pelo poeta a este autor.
[3] Idem, p. 66.
[4] ALMADA, José Luis Hopffer C. O Parto da Sombra ou Confissões do Autor. In: À Sombra do Sol – Volume I. Praia: Voz di povo, 1990, p. 15.
[5] A primeira edição de Assomada Nocturna foi publicada em 1993, enquanto a segunda edição novamente ampliada deu-se em 2005.
[6] Referimo-nos ao prefácio de Inocencia Mata e ao posfácio de Maria Armandina Maia constantes da segunda edição de Assomada Nocturna – Poema de NZé dy Santy’ Águ; e ao posfácio de Rui Guilherme Gabriel à primeira edição de Praianas – Revisitação do Tempo e da Cidade.
[7] “É pela metaforização do discurso / que se salva o pensamento”. VIEIRA, Arménio. Poemas. São Vicente: Ilhéu Editora, s/d. p. 9.
[8] Expressão alcunhada por Inocência Mata em seu prefácio “Corografias da memória: a lenta e transparente poética de NZé di Sant’ y Águ” à segunda edição de Assomada Nocturna.
[9] Entrevista de José Luis Hopffer C. Almada ao semanário A Nação (Cabo Verde) nº 92, p. 2-3, gentilmente enviada pelo Prof. Rui Guilherme Gabriel para o autor deste artigo em 30 de novembro de 2009.
[10] “Vem até mim / nesta noite de vendaval na Europa / pela voz solitária de um trompete / toda a melancolia das noites de Geórgia; / oh! mamie oh! Mamie / embala o teu menino / oh! mamie oh! mamie / olha o mundo roubando o teu menino. // Vem até mim / ao cair da tristeza no meu coração / a tua voz de negrinha doce / quebrando-se ao som grave / dum piano / tocando em Harlem: / – Oh! King Joe / King Joe / Joe Louis bateau Buddy Baer / E Harlem abriu-se num sorriso branco / Nestas noites de vendaval na Europa / Count Basie toca para mim / e ritmos negros da América / encharcam meu coração; / – ah! ritmos negros da América / encharcam meu coração! / E se ainda fico triste / Langston Hughes e Countee Cullen / Vêm até mim / Cantando o poema do novo dia / – ai! os negros não morrem / nem nunca morrerão! / // ...logo com eles quero cantar / logo com eles quero lutar / – ai! os negros não morrem nem / nem nunca morrerão!” (DASKÁLOS, 2003, p. 268-269)
[11] Francisco José Tenreiro nasceu em 1921 na Ilha de São Tomé, faleceu em Lisboa, em 31/12/1961. Participou ativamente dos movimentos literários e políticos da Casa dos Estudantes do Império. Foi um dos idealizadores do Centro de Estudantes do Império, de atividade clandestina. Para além de poeta, foi ensaísta e investigador, com escritos em jornais e revistas nacionais e estrangeiros.  Obras: Ilha do Nome Santo (1942); Obra Poética de Francisco José Tenreiro (1967); Coração em África (1977). Organizador com Mário Pinto de Andrade do caderno Poesia Negra de Expressão Portuguesa (1953)
[12] Sobre a biografia de Rosa Parks, consulte o sítio http://www.rosaparks.org/bio.html. Acessado em 15 de março de 2010.

5 comentários:

  1. Brilhante tese!
    Merece destaque e Parabéns!
    Lúcia Casanova-SP

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  2. Muito obrigado, Lúcia!
    Carinho especial por este artigo, representa a consolidação do meu contato com este grande poeta e crítico, José Luis Hopffer Almada.
    Abraços,
    Ricardo Riso

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  3. Ricardo.
    Gostou da edição?
    Fico feliz que esteja recebendo bons leitores, pois esta nossa missão: divulgar o saber e compartilhar conhecimentos.
    Parabéns pelo brilhante Estudo.
    Bjs,anamerij

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  4. Fico feliz por participar deste projeto como mais um espaço para divulgar a literatura dos países africanos de língua portuguesa, Ana!
    Grande abraço,
    Ricardo Riso

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  5. Ola Ricardo,

    Obrigado por este excelente ensaio, que mereceu a nossa atençao e até nos inspirou em entrevista acabada de ser feita com o poeta José Luis Hopfer Almada, sobre a morte da Professora Elsa Rodrigues dos Santos, cujo link fica aqui para confirmar que enviámos os nossos leitores/ouvintes para o seu site através do intertexto do poema Australidades:

    http://www.portugues.rfi.fr/africa/20120919-morreu-professora-elsa-rodrigues-dos-santos-especialista-da-africa-lusofona

    JMATOS
    Jornalista

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